quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Insensatez

Meu insensato lado de lá,
que se insinua
na segura corrente em que vivo.
Que me deseja nua, na rua,
tonta de tanto riso,
afugentando a demência de tanto siso.

Meu sensato lado de cá,
que equilibrista me faz,
e foge do perigo,
e em redoma segura se fecha,
e prende as cordas.
Torna cansativa paz a quietude.
Secreta-me um degredo,
sem mistério, sem segredo.

Ah! Insensatez que não se impõe!
Minha incerta parte que não se expressa!
Arrebenta de vez o quadrado.
Faz pontudo, faz de conta,
faz tudo que insensato pareça.
Impede que a sensatez me emudeça.
Faz-me lenta, prazerosa,
liberta de cercas, à toa,
insensata, misteriosa.

Oldair Marques

2 comentários:

Kel disse...

Halad! Creio que desde que venho lendo este blog este é o melhor poema que já li. Parabéns, é lindo. E eu torço para que sua insensatez e sensatez entrem em um acordo e que no final tudo saia bem. Que é o mesmo que dizer: que vc seja feliz.
Beijos!

Renato Ziggy disse...

Sem dúvidas, a insensatez torna a eu-lírico deveras interessante também. Esses conflitos internos, o vai ou não vai, a razão e o impulso fazem parte de nós. E às vezes umsai ganhando. Chuta-se o balde ou equilibra-se sobre ele. E ambos podem ser válidos. Ou não. Abraço!