quarta-feira, 29 de julho de 2009

Incapaz

Incapaz, incapaz, incapaz...
É o que ouço da minha mente
Em um eco infinito.
Se quiser, minto.
Se quiser, finjo.
Mas não consigo.
Não mais acredito.
Não mais tenho fé.

Essa vida às vezes é tão sem graça.
Tão errada.
E só fui feliz quando errei.
Quando me desfiz
Da minha máscara virtuosa,
Da minha capa imaculada.
Quando enganei
Foi quando acreditaram em mim.

Quando digo que a amo
Ela só me olha.
Olha e não me vê
Ou vê e não crê.

A vida é bela,
Mas agora sou incapaz de contemplar sua beleza.
Agora sou a verdade que morre feto.
Abortada pela sua insensibilidade.
Jogada na lata de lixo.
Alimento para os mendigos
Que têm fome de amor.

Quem me ama, ama-me incorretamente.
Só com o coração.
Para amar é preciso muito mais...
Não se pode esquecer o corpo, a alma, a mente...
Mente quem diz que me ama.
Mente porque faria qualquer coisa para me ter.
Qualquer coisa para meter comigo.
Para eu meter consigo e ninguém mais.

Incapaz, incapaz, incapaz...
Queria ser capaz de acabar com esta minha incapacidade.
Incapacidade de ser capaz de acertar o alvo
Que muda a cada mira que faço
Laço que me prende na escuridão
Na falta de luz que é o saber.
Saber que o que vejo é miragem.
Não oásis.
Que vou morrer de sede
Porque a fonte de vida que são seus lábios,
Distante, muito distante dos meus está.

Incapaz, incapaz, incapaz...
De não deixar de reclamar do meu destino.
Que não é divino,
Porém está muito longe de ser maldito.
Maldito é o muro que me separa do seu corpo febril
Que me impede de matar quem me ofende
Ofensor que é gentalha
Que tem existência equivocada
E tenho a solução em minhas mãos.
Mas o ódio que ele me provoca, só a mim fere.
Minha educação me torna manso.
Indefeso diante desta gentalha.

Incapaz, incapaz, incapaz...
Incapacidade de odiar plenamente.
De amar plenamente.
E essa gentalha é incapaz de me ajudar.
Mostrem-me os caminhos do excesso.
Chega de pasmaceira.

José Rosa (ZeRo S/A)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Uma História (Setembro/1987)

A boca está fechada
Só os olhos é que têm vida
Vida vivida em fotografias
Fotografias de corpos
Corpos provocantes
Corpos que desejam corpos
Corpos que se confundem com outros corpos
Corpos, apenas corpos.

Foi em um dia chuvoso
Que com um tiro na cabeça
Um rapaz apaixonado se suicidou.

Dormindo não se consegue sonhar
Quando acordado a realidade não se quer aceitar
Busca-se fotografias para esquecer
Sonha-se acordado para sobreviver

Na televisão se pode ver
O corpo ensanguentando
De um rapaz apaixonado

Não se tem certeza se ela é a garota certa
Seu corpo lhe provoca
O corpo e mais nada
Talvez ela seja a garota errada

Alguns jornais anunciam uma nova doença
Outros estão estampados
Com fotografias
Do corpo de um rapaz apaixonado

José Rosa (ZeRo S/A)